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Todas as segundas, quartas e sextas um artigo quentinho com opiniões aleatórias, questionamentos socráticos e visões confusas de mundo!

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Liberdade x Libertinagem

Hoje há uma mentalidade de se querer a liberdade a qualquer preço, pois todos têm direito de fazer suas escolhas, sejam elas quais forem. E ainda, para se conviver bem em sociedade, prevalecem as ideias que a maioria escolhe.

Mas o problema é que, em um ciclo histórico conturbado em que vivemos atualmente, as pessoas em geral (nós!) não possuem referencial. As escolhas serão, portanto, baseadas em interesses pessoais, nos instintos diversos do ser humano (sobrevivência, procriação, preservação da vida e outros). Como os interesses de cada um são distintos, harmonizá-los é considerado algo difícil, um fator que gera vários conflitos, o que cria uma grande separação entre os seres humanos.

Sem entrar no mérito dessa separação, a ideia de que liberdade é “poder de exercer livremente a sua vontade” prevalece e é bastante utilizada nos dias de hoje. A frase está correta, mas o que se entende por vontade hoje é diferente do que significa de fato. O conceito de vontade atualmente está relacionado com a capacidade de fazer ou deixar de fazer alguma coisa. Entretanto, o querer fazer ou não está mais relacionado com o desejo que se tem sobre algo.

Pensadores clássicos (sintetizando a ideia de vários cujos nomes não citarei aqui agora) faziam uma distinção entre os conceitos de vontade e desejo. A primeira seria como uma “lei universal”, um impulso que faz com que tudo exista e ocupe uma função no Cosmos, e está presente em tudo no universo. O desejo, ao contrário, não está preocupado com a utilidade do todo, mas sim em satisfação pessoal, muitas vezes a todo custo.

E hoje, esse conceito de fazer o que quiser, de se ter “liberdade”, prevalece sobre qualquer outro, e agora todos têm o direito de fazerem o que quiserem, desde que não restrinjam os desejos alheios. Em geral, objetivamos com a “liberdade” uma independência total, de tudo e de todos, de não se comprometer com nada, para assim não ter que prestar contas nem com o que se fala, nem com o que se faz, nem com o que se pensa... Ou seja, uma verdadeira negação da responsabilidade.

Agora, seguindo esse conceito, de que vale tudo, surgem atitudes entre os seres humanos que não cabem à natureza destes (a meu ver). O “ser humano”, entre aspas mesmo, se torna bruto, deixa os seus instintos animais prevalecerem, cometem atrocidades que, às vezes, nem um animal é capaz de cometer.

Que liberdade é essa que, ao invés de deixar o ser humano livre para exercer sua própria natureza humana, deixa-o tornar-se escravo de seus próprios desejos? Essa ideia, a que chamam de liberdade, não é, portanto, liberdade de fato, e sim o seu oposto: libertinagem.



Não estou falando de nenhum conceito religioso que esse termo possa nos remeter; mas o fato é que a libertinagem apresenta a ausência de regras. Neste caso sim, cada um faz o que quer, de acordo com seus interesses. O filósofo alemão Immanuel Kant diria que “liberdade é seguir as leis da natureza”. Sem entrar em muitos detalhes no momento sobre como seriam essas leis, pois há muito “pano para manga” para falar sobre, parece-me que há certos acontecimentos que são naturais pelo menos dentro de algum período; coisas simples com a busca da planta pela luz e alimento, a resistência de uma pedra, os ciclos da vida em todo tipo de ser... o nascimento e a morte... Então, para nós seres humanos também devem existir leis próprias, espécies de regras que devemos seguir, não cegamente, como algo obrigado, mas sim por compreensão. 

Numa sociedade em que se cultiva a libertinagem, o resultado é uma degradação generalizada, tanto do próprio ser humano quanto de tudo que o rodeia, que é cuidado por ele; não há valores humanos; pelo contrário, o que toma conta são a grosseria, a brutalidade, a indiferença e a irresponsabilidade. Como consequência, vemos o aumento dos crimes, a delinquência, a busca pelo que é ruim, mórbido, nefasto... Mas... dizem que cada um é livre para fazer o que se quer... 

Na minha humilde visão, de uma pessoa cheia de defeitos e desejos bem egoístas, ainda acredito que é necessário resgatar esse conceito de liberdade, para que cada um reconheça o seu papel no mundo, dentro da sociedade em que está inserida. Saber o que é justo para si mesmo, para as suas diversas partes e necessidades que o constituem, para que possa reconhecer essa justiça fora, nas pessoas e lugares ao seu redor. Essa escolha consciente, para mim, é a liberdade. Espero consegui-la...

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