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Todas as segundas, quartas e sextas um artigo quentinho com opiniões aleatórias, questionamentos socráticos e visões confusas de mundo!

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Se deus existe, mate-o.

Se existe um deus ou deuses, eles não parecem muito preocupados com os problemas da Terra. Em primeiro lugar, e definitivamente, os homens não são o centro do universo, o motivo da criação e a imagem e semelhança desses supostos seres superiores. Estamos sós, por nossa própria conta e risco, como se eles não existissem. E assim continuamos e continuaremos até o fim da humanidade. Contar com uma ajuda sobrenatural diante dos problemas que enfrentamos me parece uma terrível falta de bom senso. A situação do mundo, dos homens e seus antecessores em todos os tempos, a diversidade religiosa e as guerras motivadas por crenças no correr da história são boas evidências. Isso, levando em conta, humildemente, que ele ou eles existam.

Deuses, no atual estágio da humanidade, são fruto da imaginação humana, aflita e medrosa de estar sozinha no espaço, à deriva. Na noite do mundo. Diminuta e passageira diante de titânicas, agressivas e matadoras nebulosas com bilhões e bilhões de anos. Ainda que ele ou eles existam, uma concessão da minha imaginação, não existe um ser humano sequer que acredite neles. Acreditamos em fantasias, em projeções de nós mesmos, de nossa inteligência e ignorância, e de nosso caráter, nossa moral e nossos princípios e concessões éticas mais profundas e perigosas. Aqui, em nossa ignorância, esses seres não opinam. Nunca disseram nada e tudo que temos de escrito como se fosse deles, foi escrito por humanos e foi usado para justificar crueldades e imbecilidades. Crimes.

A religião já cumpriu seu papel na história do homem. A palavra "deus" limita a busca de respostas. Temos novas ferramentas para compreender o mundo. Não somos os mesmos caçadores e coletores de 10 mil anos atrás. Quando colocamos os deuses na frente das nossas novas ferramenta, eles se transformam na própria resposta, impedem o avanço. Interrompemos a busca por compreensão do mundo porque dizemos que aquilo que questionamos, seja o universo ou a efemeridade da existência humana, vem de um ser superior que assim deseja e que não somos capazes de compreender, e nunca seremos, pois sempre seremos inferiores. Resumindo: a ideia de deus, hoje, é limitadora da busca por respostas.

Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Estamos em uma estrada de conhecimento tão longa que só pode ser percorrida por infinitas gerações de humanos. E que teremos que sempre corrigir a rota, os meios, os conceitos, humildemente, independente do quanto tivermos caminhado. E não há como revisar a figura de um ser absoluto e perfeito.

Outro fator que nos impede de estar em contato com nós mesmos, com o mundo e com o próximo é crer que vamos para outro lugar depois daqui. Não sabemos. E tenho motivos para pensar que o melhor é acreditar que não, em nome da intensidade, da plenitude, da completude. Se houver de fato reencarnação, ou algum tipo de vida após a morte, não sabemos e não temos como saber. Não existem provas disso. As cortinas estão fechadas. É perda de tempo viver pensando na suposta vida pós-morte e é perda de tempo usar a imagem de deus como resposta para, indiscriminadamente, qualquer assunto que seja. Viver pensando no outro lado, no além da cortina, esperando por recompensa ou punição, é deixar de viver o presente, nosso mais próximo e terno contato com a realidade. É perder a intensidade de cada instante único com cada pessoa única. Qualquer bondade supostamente altruísta que vise alguma forma de céu ou medo de punição, é egoísta, tendenciosa.

A única forma de agir sinceramente é afastando idéias de recompensas e castigos divinos, e consequentemente de continuidades, que necessariamente implicarão na dualidade citada, com mais ou com menos intensidade, na pior das hipóteses, escalonando almas, nos impedindo, por exemplo, de tocar o íntimo de um assassino, compreendê-lo, e assim curá-lo, se ele precisar de cura ou puní-lo, se ele precisar de punição. Porque nos veremos como mais evoluídos, unilateralmente. Nos impedindo de tocar e vislumbrar o íntimo de quem amamos, que vamos ter junto a nós por tão pouco tempo. Porque temos a eternidade, mesmo que, na verdade, não a tenhamos. E nos perdemos em banalidades egoístas, mesquinhas, medíocres, ao invés de ceder conscientemente ao carpe diem.

Mesmo o fator reencarnação, que ostenta um verniz de equilíbrio ante a dualidade céu/inferno, é supérfluo. Se existe, não nos lembramos de quem fomos e nosso presente Eu é mortal. Desaparecerá com o fim e merece o respeito de vislumbrar o melhor possível o mundo, o universo, a natureza e aqueles que amamos, pois viverá muito pouco tempo com estas coisas antes de ser obliterado pela fantasiosa cadeia de nascimentos e mortes. O Universo não precisa de um deus para ser belo. Ele é belo em si. E nós não precisamos de promessas para amar o próximo e a nós mesmos. Nascemos com essa capacidade.

Deixo vocês com uma tirinha sensacional do André Dhamer:

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