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Todas as segundas, quartas e sextas um artigo quentinho com opiniões aleatórias, questionamentos socráticos e visões confusas de mundo!

segunda-feira, 25 de maio de 2015

O fascismo nosso de cada dia




O segundo episódio da trilogia O Século, do escritor Inglês Ken Follet, Inverno no Mundo, apresenta com maestria a ascensão de Hitler. Embora se trate de um romance de ficção, a apresentação dos fatos históricos é muito boa, e o romance ajuda a entendermos um pouco do imaginário da época. Decidi citá-lo aqui porque, enquanto lia sobre os Camisas Pardas e a tomada do poder pelo partido nacional-socialista, me lembrei do Brasil hoje. Ainda é uma reflexão imatura, mas borbulhou tanto na minha mente que não pude deixar de compartilhá-la, em um momento propício, no calor dos discursos políticos e do conservadorismo da nossa sociedade. Eis, frente a frente, o nosso brasil e a Alemanha de 30. Tenho a sensação, e sei que não sou o único, que mais uma vez, a serpente (que irônia), pôs seus ovos no Brasil.

Agora, escrevendo, pensando melhor, talvez minhas referências sejam óbvias demais. Apresentarei pedaços de uma colcha de retalhos. Conversando com o Pedro, concordamos que  a idéia soava alarmista e conspiratória, mas não perdia o "Q" de plausível. A Alemanha vivia uma crise econômica, provocada pela derrota na Primeira Guerra e pela crise de 1929, a chamada Grande Depressão. A população alemã estava cansada do partido no poder e muitos acreditavam que era possível sacrificar "um pouco" da liberdade em nome da prosperidade.

O medo do comunismo era outra desculpa para que os nazifacistas tomassem o poder. Os próprios membros do partido causaram um incêndio no Reichstag, o parlamento alemão e acusaram a oposição, para justificar a aplicação de uma lei que daria plenos poderes ao baixinho bigodudo. Do outro lado, abertamente, com um poder de polícia, os Camisas Pardas de Hitler depredavam redações de jornais liberais, intimidavam comerciantes judeus ou homossexuais, invadiam residências, quebravam as mãos de músicos e toda a sorte de desgraças que Hollywood faz questão de nos lembrar todos os anos no Oscar.

Bem... Já flertamos com os nazistas antes, na época do velhinho Getúlio Vargas. Até ensaiamos campos de concentração em algumas fazendas. Os integralistas, que se inspiravam no facismo italiano, dialogavam com o III Reich. Mas esse tempo passou. Será? Vamos ao presente. Somos um país de maioria conservadora, é só olhar para o Congresso.Uma das bancadas que mais crescem é a evangélica. São figuras radicais, sustentadas por uma massa cristã que pesa na balança democrática e que se se colocam contra o casamento gay, o aborto, a laicicidade do estado, a legalização da maconha, tudo abertamente e protegidos pelo verniz impermeável da religião, supostamente imunea piadas e ridicularizações sob pena de multa e detenção.

Esses políticos tratam a homossexualidade como doença e tomam decisões com base na bíblia, um copilado arremedo de livro, velho, ultrapassado e repleto de mentiras e violências. Eles criam medos que não existem, como a cristofobia e a heterofobia. De partidos diferentes, são parlamentares alinhados ideologicamente. E foi exatamente neles que pensei enquanto lia ávido sobre a jornalista inglesa Maud, o marido Walter Frank, um social democrata, e os filhos, todos sofrendo, impotentes, as consequências da ascenção de Hitler. Mas, cara, você está exagerando... Talvez eu esteja.

Exagero ao levar em conta o frágil retorno de simpatizantes do Integralismo, o poder de voto dos evangélicos e a força da bancada religiosa e seus apoiadores, que bradam verdades com base em nada e destilam ódio sob a proteção de uma interpretação doentia da liberdade de expressão. Vejo aí um terreno propício para o nascimento de um ou mais partidos ultraconservadores. Sinto cheiro de fezes. E fezes me lembra estrume que, nesse caso, me remete ao adubo tóxico que favorece às trepadeiras parasitas do ódio.

Vivemos um momento de discursos e regressos. É como se tivéssemos um quebra-cabeças desmontado. Outra peça que também me chamou a atenção, já ia me esquecendo, são os Gladiadores do Altar, da Igreja Universal. Mas o que uma coisa tem a ver com a outra? Bem, eles são o exército de uma igreja evangélica. Essas instituições detém uma considerável parte dos eleitores dos políticos da bancada evangélica no Brasil. Hoje, são inofensivos, mas por quem, em nome de que e para que serão usados amanhã? Os representantes do grupo detentor dos voluntários também bradam o medo do comunismo em um país em crise financeira e institucional grave. Não deu para juntar as peças, mas as cores e linhas que surgem no perigoso jogo me lembram muito uma suástica.

"O essencial é invisível aos olhos."
Antoine Saint Exupery

"O óbvio é invisível aos olhos."
Eu mesmo

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Direitos humanos para humanos!

Culpar os direitos humanos pelos problemas de violência parece um esporte muito comum nos tempos atuais. Sempre que vemos uma notícia sobre um policial morto ou ferido por algum bandido é comum nos depararmos com comentários como o seguinte: “Engraçado, se fosse o contrário esta matéria regional estaria estampada na página principal com um título bem sensacionalista!”, para a matéria cujo título é: Policial é morto em tentativa de assalto em Sobradinho, no DF. E este é um comentário que traduz muito do que sente (e o que pensa) uma grande fatia da população, que muitas vezes ganha eco em discursos de políticos como Bolsonaro e jornalistas como Datena. Esta, porém, é uma linha de pensamento altamente falaciosa, emotiva e que no fim das contas não resolve absolutamente nada o problema da violência.

Colocar o problema da violência policial e o problema da violência social em um só balaio é uma confusão tremenda. Assim como pedras e feijões não são a mesma coisa por estarem todos dentro do saco de feijão esse problema tem que ser separado em dois montes e cada qual tratado de uma forma.

A violência social é uma expressão da violência potencial que cada ser humano é capaz de cometer nas relações do dia-a-dia. Baixa escolaridade, pouca mobilidade social, pobreza, uso de drogas, são alguns dos fatores que podem estimular o este tipo de violência. É bom notar que esta violência é inata ao ser humano, está contida nos instintos básicos e, exatamente por isso, costuma ser muito bem mitigada com o desenvolvimento de ações culturais diversas, tais como programas de esporte, escolas em período integral, abertura de bibliotecas públicas e oferta maior de emprego. Deste modo a violência social é uma prática que não goza de legitimidade, salvo em alguns casos pontuais.


Já a violência policial não é uma violência praticada por um indivíduo como expressão primal de algum instinto não controlado. É a violência de um agente do Estado, quem está empunhando um cassetete que desce à orelha dalgum cidadão não é outro cidadão violento, é o próprio Estado. O Estado pode ser entendido como uma instituição que representa a coletividade, criado para manter certo grau de ordem, controlando as ações daqueles indivíduos que não seguem as regras da civilidade. Pois bem, quando o policial, como agente do Estado, lança mão de uma atitude violenta, de alguma forma é como se o Estado estivesse legitimando a violência. Eis o motivo do comentário do cidadão estar correto, sim, se fosse um policial que houvesse matando um bandido a notícia teria muito mais destaque, pois é esperado que bandidos tentem (e infelizmente eventualmente consigam) matar policiais. Já quando um policial mata um bandido é coisa inesperada e quebra de paradigma, os policiais devem prender, conter, impedir e no melhor dos mundos, educar o cidadão que pretende ou que descumpre a Lei.

Sendo assim os direitos humanos realmente precisam se preocupar com os excessos que o Estado está tomando através de sues agentes. Seria completamente inútil que fizesse coro com o que o bom senso já diz: os bandidos devem ser presos e condenados por seus atos. Toda a sociedade acredita nisto e persegue este ato em consonância com o que o Estado, em teoria ao menos, busca. Assim os direitos humanos protegem todos os humanos de desvios na conduta do Estado que alguns agentes possam ter ou mesmo que este Estado se desvirtue completamente como em diversos casos que já presenciamos na história seja na Iugoslávia, em Guantánamo ou em alguma Delegacia de Polícia num lugarejo de Minas Gerais.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Você realmente se preocupa com o que seu filho consome?

Resolvi escrever este texto ao sair de uma sessão de cinema. Dia desses deixei meu filho com minha sogra e fui com minha esposa assistir ao novo filme do sul-africano Neill Blomkamp, Chappie. Assim como o já cult Distrito 9 pode ser visto como uma versão adulta (e digo isso não apenas pelo filme mostrar violência e palavrões em um clima mais realístico, mas pelos próprios temas abordados e as metáforas existentes) de E.T. – O Extraterreste de Spilberg, Chappie é uma versão adulta de Robocop 2. Estão ali os robôs substituindo policiais, a questão da violência e da consciência, mas tudo muito no estilo Blomkamp de ser.

Pois bem, pipoca, refrigerante e ingresso na mão, entro na sala. Antes de entrarmos minha esposa já havia me perguntado se não teriam muitas crianças na sala, posto que o Shopping estava apinhados delas e era uma sessão às 15h30. Prontamente respondi que não, afinal se tratava de um filme com censura 16 anos, com temática adulta que ficava bastante patente no trailer do filme e na filmografia do diretor. Qual não foi minha surpresa ao ver inúmeros pais com seus rebentos em idades de uns 7 até 12 anos na sala (isto sem contar um bebê, que ao final da sessão começou a chorar, sério, acho que devia ser proibido levar bebês à salas de cinema fora das sessões especiais para pais com bebês). Não pude deixar de pensar em todas as crianças na sala de cinema enquanto me deleitava com o filme, era impossível não ter um certo desconforto com as chuvas de palavrões que Ninja e Yolandi Visser soltavam a cada cena ou com a violência gráfica que também vinha em doses generosas. Ao fim do filme ainda me questionava o quanto da temática um garoto de 8 anos conseguiu extrair. O filme, uma com muito de reflexão sobre a nossa sociedade pós-industrial com suas contradições, sobre a violência policial, o despertar de uma consciência moral, o consumismo a marginalização e mais uma pá de coisa que é possível extrair foi tratado por pais, possivelmente, como apenas uma atração de ação para entreter seus filhos em uma sábado a tarde.

Daí, ao conversar sobre isso com minha esposa (que, coitada, é obrigada a ficar ouvindo diariamente minhas elucubrações sobre o universo, a vida e tudo mais), me lembrei dos ferrenhos pais, que amaldiçoaram a nefasta rede Globo por colocar no ar uma novela que mostra um casal de senhoras lésbicas se beijando às 21h30 em suas caixinhas mágicas de diversão. Pensei se alguns daqueles pais, que levaram seus filhos para ver o Chappie, engrossavam esse coro de cidadãos preocupados com os “bons-costumes”. E me perguntei se eles estavam realmente preocupados com o que os filhos deles consomem.

Vejam bem, se o pai acha que a homossexualidade é coisa do demônio e que o filho ver uma coisa dessas vai fazer com que ele acabe se enveredando pelo caminho do pecado, ok, o cidadão tem o direito de achar o que quer da vida. Agora, se o cidadão pensa assim deveria, antes de deixar o filho ver uma cena tão pecaminosa na TV às 21h30, desligar o aparelho e propor aos filhos lerem o Pequeno Príncipe juntos, ou mesmo a Bíblia (se bem que tem cada coisa neste livro também que seria melhor poupar os filhos mais novos), ainda existe a possibilidade de buscar a programação de outros canais, comprar um DVD ou talvez ensinar aos filhos que criança dorme cedo e 21h30 é hora de escovar os dentinhos, vestir o pijaminha e ouvir uma boa historinha ou contar carneirinhos até o sono chegar. 

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Se deus existe, mate-o.

Se existe um deus ou deuses, eles não parecem muito preocupados com os problemas da Terra. Em primeiro lugar, e definitivamente, os homens não são o centro do universo, o motivo da criação e a imagem e semelhança desses supostos seres superiores. Estamos sós, por nossa própria conta e risco, como se eles não existissem. E assim continuamos e continuaremos até o fim da humanidade. Contar com uma ajuda sobrenatural diante dos problemas que enfrentamos me parece uma terrível falta de bom senso. A situação do mundo, dos homens e seus antecessores em todos os tempos, a diversidade religiosa e as guerras motivadas por crenças no correr da história são boas evidências. Isso, levando em conta, humildemente, que ele ou eles existam.

Deuses, no atual estágio da humanidade, são fruto da imaginação humana, aflita e medrosa de estar sozinha no espaço, à deriva. Na noite do mundo. Diminuta e passageira diante de titânicas, agressivas e matadoras nebulosas com bilhões e bilhões de anos. Ainda que ele ou eles existam, uma concessão da minha imaginação, não existe um ser humano sequer que acredite neles. Acreditamos em fantasias, em projeções de nós mesmos, de nossa inteligência e ignorância, e de nosso caráter, nossa moral e nossos princípios e concessões éticas mais profundas e perigosas. Aqui, em nossa ignorância, esses seres não opinam. Nunca disseram nada e tudo que temos de escrito como se fosse deles, foi escrito por humanos e foi usado para justificar crueldades e imbecilidades. Crimes.

A religião já cumpriu seu papel na história do homem. A palavra "deus" limita a busca de respostas. Temos novas ferramentas para compreender o mundo. Não somos os mesmos caçadores e coletores de 10 mil anos atrás. Quando colocamos os deuses na frente das nossas novas ferramenta, eles se transformam na própria resposta, impedem o avanço. Interrompemos a busca por compreensão do mundo porque dizemos que aquilo que questionamos, seja o universo ou a efemeridade da existência humana, vem de um ser superior que assim deseja e que não somos capazes de compreender, e nunca seremos, pois sempre seremos inferiores. Resumindo: a ideia de deus, hoje, é limitadora da busca por respostas.

Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Estamos em uma estrada de conhecimento tão longa que só pode ser percorrida por infinitas gerações de humanos. E que teremos que sempre corrigir a rota, os meios, os conceitos, humildemente, independente do quanto tivermos caminhado. E não há como revisar a figura de um ser absoluto e perfeito.

Outro fator que nos impede de estar em contato com nós mesmos, com o mundo e com o próximo é crer que vamos para outro lugar depois daqui. Não sabemos. E tenho motivos para pensar que o melhor é acreditar que não, em nome da intensidade, da plenitude, da completude. Se houver de fato reencarnação, ou algum tipo de vida após a morte, não sabemos e não temos como saber. Não existem provas disso. As cortinas estão fechadas. É perda de tempo viver pensando na suposta vida pós-morte e é perda de tempo usar a imagem de deus como resposta para, indiscriminadamente, qualquer assunto que seja. Viver pensando no outro lado, no além da cortina, esperando por recompensa ou punição, é deixar de viver o presente, nosso mais próximo e terno contato com a realidade. É perder a intensidade de cada instante único com cada pessoa única. Qualquer bondade supostamente altruísta que vise alguma forma de céu ou medo de punição, é egoísta, tendenciosa.

A única forma de agir sinceramente é afastando idéias de recompensas e castigos divinos, e consequentemente de continuidades, que necessariamente implicarão na dualidade citada, com mais ou com menos intensidade, na pior das hipóteses, escalonando almas, nos impedindo, por exemplo, de tocar o íntimo de um assassino, compreendê-lo, e assim curá-lo, se ele precisar de cura ou puní-lo, se ele precisar de punição. Porque nos veremos como mais evoluídos, unilateralmente. Nos impedindo de tocar e vislumbrar o íntimo de quem amamos, que vamos ter junto a nós por tão pouco tempo. Porque temos a eternidade, mesmo que, na verdade, não a tenhamos. E nos perdemos em banalidades egoístas, mesquinhas, medíocres, ao invés de ceder conscientemente ao carpe diem.

Mesmo o fator reencarnação, que ostenta um verniz de equilíbrio ante a dualidade céu/inferno, é supérfluo. Se existe, não nos lembramos de quem fomos e nosso presente Eu é mortal. Desaparecerá com o fim e merece o respeito de vislumbrar o melhor possível o mundo, o universo, a natureza e aqueles que amamos, pois viverá muito pouco tempo com estas coisas antes de ser obliterado pela fantasiosa cadeia de nascimentos e mortes. O Universo não precisa de um deus para ser belo. Ele é belo em si. E nós não precisamos de promessas para amar o próximo e a nós mesmos. Nascemos com essa capacidade.

Deixo vocês com uma tirinha sensacional do André Dhamer: